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Ontem meu presente foi presença!
O trabalho tem me deixado ausente e quis um dia tranquilo com ela.
Preparei café, fiz um pãozinho na chapa e ficamos ali, papeando como se não houvesse relógio.
Pro almoço escolhemos um macarrão com camarão, que amamos.
E ali, lentamente, limpando os camarões, decido colocar algo pra escutarmos juntas.
Ao invés de música um podcast que gosto... queria apresentá-lo à ela.
O "Plenae" conta a história de pessoas inspiradoras.
Gente que se muda e assim, muitas vezes, ajuda a mudar o mundo.
Gosto de dividir com ela coisas boas que descubro!
Coloquei no aleatório, pra escutar o primeiro episódio que viesse.
Cada vez mais entendo que pro pessoal lá de cima nada é aleatório.
Veio o que precisávamos escutar: A história de Adriana e Giovanna Araújo, uma história muito semelhante à nossa.
Minha mãe é uma mãe Atípica… mas 45 anos atrás isso não existia.
Em um tempo que mães eram impedidas pelos hospitais de ficar com seus bebês, só podendo visitá-los no horário de visita, o que considero desumano, minha mãe ia embora chorando.
Aprendi a não chorar, a me conformar, a calar… a vê-la indo embora pelo corredor e ir brincar na brinquedoteca do hospital.
Segundo ela fui uma criança “boazinha demais” (o que depois foi e vem sendo resolvido em anos de análise pela minha psicóloga a quem devo a superação de tantas barreiras invisíveis) porque de alguma forma eu sentia que ela estava ali.
Ela não ia embora, ficava esperando a hora de entrar. Eu a sentia.
Ela era MÃE, assim em letras garrafais, maiúsculas!
Não existiam mães atípicas, existiam mães invisíveis para a sociedade.
Hoje essas mães se unem e lutam para serem vistas e escutadas porque o mundo não tem que ser melhor só para seus filhos, tem que ser melhor para elas e isso só é possível se existirem para o mundo.
Pra mim ela era Mãe, ô Mãin e até Manhêeeeeeee em algumas horas.
Nunca atípica… era tipicamente mãe no sentido mais forte da palavra.
A segunda experiência da maternidade chegou intensa na vida da dona Zélia (e a frase: Um filho nunca é igual ao outro foi provada com louvor, já que tenho um irmão 6 anos mais velho)
A filha menina tão desejada veio de uma forma nada esperada.
Nasci com uma síndrome rara chamada Síndrome de Larsen (resumidamente é uma desordem genética que afeta o desenvolvimento dos ossos e caracteriza-se pela ocorrência de luxações e deslocamentos ainda no útero materno)
Teimosa desde sempre, com uma vontade de viver incrível.
A-T-R-E-V-I-D-A quando, aos 2 anos de idade, riu da cara do médico que disse que ela não ia andar e ainda fez que ele parasse de falar cantando uma musiquinha bemmmm altoooo no consultório (história que a mãe conta até hoje rindo mas na época foi constrangedora)
Entre cirurgias (foram mais de 20, perdi a conta), órteses e fisioterapia vivemos os primeiros anos com muita música e poesia.
Ontem, ao escutar o podcast uma imagem me veio à mente, nítida.
No Pátio da Santa Casa de São Paulo esperávamos para entrar no consultório médico.
Estava frio e ,embora o dia estivesse nublado, a luz entrava pelo corredor de grandes janelas e arquitetura gótica
Era um dia tenso, eu ia tirar pontos.
Em meio ao tédio da espera ela saca da bolsa um pacotinho de balas de amendoim. O papel da bala era laranja, listradinho de marrom.
Pega uma, me dá outra e com o papel da bala começa a fazer uma dobradura. Dali sai um barquinho de papel.
Me ajoelho no chão, e coloco o barquinho na cadeira, de frente pra luz…. e ali, naquele mar imaginário só nosso nos encontramos juntas navegando rumo à vida que nunca mais nos separou.
*Quem me conhece conhece minha mãe. Ela está sempre presente!
É a primeira da fila em qualquer palestra, exposição…
É a que está no canto, com os olhinhos brilhando aplaudindo cada vitória e me amparando sempre que necessário.
Hoje dividimos os papéis: às vezes sou só filha, em outras mãe dela.
Sempre juntas!
Corredor da Santa Casa de Misericórdia / SP